sábado, 10 de setembro de 2011

Recorrência: O jogo dos Reis

O título pode ser dividido em dois tópicos distintos separados pelo sinal de pontuação ":".

No nosso caso, "O jogo dos Reis" não explica "recorrência", mas exemplifica um caso de recorrência, que vou contar com mais um conto do meu cotidiano conturbado.


Quando era pequeno, tive a oportunidade de estudar xadrez. Começou como uma aula extra na minha escola primária, onde obtive destaque e me tornei seu jogador mais brilhante. Era um bom jogador. Conquistei alguns campeonatos pequenos e cheguei a disputar por 3 vezes o estadual da minha categoria.

Nessa minha época ascendente, cheguei a me federar e disputar cmpeonatos defendendo a bandeira de um clube, mas com a adolescência, o estudo do xadrez, que costumava ocupar as minhas tardes de sábado, deu lugar a outras atividades sociais, ou a falta delas.

Parei. Cansei. Dava muito trabalho.

Enfim... o que isso tem haver com recorrência? calma, já chegaremos lá. Antes, deixe-me contar mais um pedaço de um conto de meu cotidiano conturbado.

Algum tempo depois de cansar das minhas aventuras no xadrez, comecei a namorar uma menina, um pouco mais velha que eu. Capitu.

Tal como a personagem de Machado de Assis, dúvidas e incertezas até hoje ainda ocupam minha mente.

Aí começa a recorrência.

Apesar do "Jogo dos Reis" não ser mais uma constante, ele aparecia recorrentemente. Quando alguém trazia um tabuleiro pra escola, imediatamente me vinha a vontade de desafiar-lo, desafiar professores, e quem quer que achasse que pudesse me vencer. Fiz alguns amigos assim. Incontáveis vezes usei meus intervalos entre as aulas pra disputar partidas rápidas com algum amigo.

Com Capitu, ensinei-a a jogar.

E esse é apenas um dos elos que a ligam ao jogo. Um outro, e muito mais importante é a tal recorrência.

O xadrez sempre foi e voltou. Quando estou entediado, muitas vezes volto às minhas raízes, e jogo uma partida on line, ou contra o computador. Lembro-me dos momentos felizes da minha infência em que simplesmente queria encurralar o Rei adversário.

Capitu sempre foi e voltou. Por vezes, quando estou mais carente, meus pensamentos se voltam para ela. Lembro-me dos momentos felizes de quando amei sem medos ou receios.

Poderia fazer minhas as palavras de Gabriel Garcia Marques, grande escritor colombiano e vencedor do nobel de literatura em 1982:

Gosto de você não por quem você é, mas por quem sou quando estou contigo

Essa frase valeria pros dois, com a capacidade de voltar no tempo que me proporcionam.

No fim não deu certo. Nem um nem outro. Não me tornei o grande enxadrista que um dia sonhara, e sequer me tornei o príncipe encantado que habitava os sonhos de Capitu.

No entanto, ambos os sonhos voltam a habitar minha cabeça recorrentemente. Um pensamento de "e se eu tentasse de novo", "e se eu tivesse feito diferente", "e se eu tivesse me esforçado um pouco mais", e se...


Gabriel Garcia Marques então diria:

Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu

Que eu faça minhas também, essas suas palavras.




Um comentário:

  1. Faz tempo que você não escreve. Que tal postar algo nesse novembro que promete?

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