No nosso caso, "O jogo dos Reis" não explica "recorrência", mas exemplifica um caso de recorrência, que vou contar com mais um conto do meu cotidiano conturbado.
Quando era pequeno, tive a oportunidade de estudar xadrez. Começou como uma aula extra na minha escola primária, onde obtive destaque e me tornei seu jogador mais brilhante. Era um bom jogador. Conquistei alguns campeonatos pequenos e cheguei a disputar por 3 vezes o estadual da minha categoria.
Nessa minha época ascendente, cheguei a me federar e disputar cmpeonatos defendendo a bandeira de um clube, mas com a adolescência, o estudo do xadrez, que costumava ocupar as minhas tardes de sábado, deu lugar a outras atividades sociais, ou a falta delas.
Parei. Cansei. Dava muito trabalho.
Enfim... o que isso tem haver com recorrência? calma, já chegaremos lá. Antes, deixe-me contar mais um pedaço de um conto de meu cotidiano conturbado.
Algum tempo depois de cansar das minhas aventuras no xadrez, comecei a namorar uma menina, um pouco mais velha que eu. Capitu.
Tal como a personagem de Machado de Assis, dúvidas e incertezas até hoje ainda ocupam minha mente.
Aí começa a recorrência.
Apesar do "Jogo dos Reis" não ser mais uma constante, ele aparecia recorrentemente. Quando alguém trazia um tabuleiro pra escola, imediatamente me vinha a vontade de desafiar-lo, desafiar professores, e quem quer que achasse que pudesse me vencer. Fiz alguns amigos assim. Incontáveis vezes usei meus intervalos entre as aulas pra disputar partidas rápidas com algum amigo.
Com Capitu, ensinei-a a jogar.
E esse é apenas um dos elos que a ligam ao jogo. Um outro, e muito mais importante é a tal recorrência.
O xadrez sempre foi e voltou. Quando estou entediado, muitas vezes volto às minhas raízes, e jogo uma partida on line, ou contra o computador. Lembro-me dos momentos felizes da minha infência em que simplesmente queria encurralar o Rei adversário.
Capitu sempre foi e voltou. Por vezes, quando estou mais carente, meus pensamentos se voltam para ela. Lembro-me dos momentos felizes de quando amei sem medos ou receios.
Poderia fazer minhas as palavras de Gabriel Garcia Marques, grande escritor colombiano e vencedor do nobel de literatura em 1982:
Gosto de você não por quem você é, mas por quem sou quando estou contigo
Essa frase valeria pros dois, com a capacidade de voltar no tempo que me proporcionam.
No fim não deu certo. Nem um nem outro. Não me tornei o grande enxadrista que um dia sonhara, e sequer me tornei o príncipe encantado que habitava os sonhos de Capitu.
No entanto, ambos os sonhos voltam a habitar minha cabeça recorrentemente. Um pensamento de "e se eu tentasse de novo", "e se eu tivesse feito diferente", "e se eu tivesse me esforçado um pouco mais", e se...
Gabriel Garcia Marques então diria:
Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu
Que eu faça minhas também, essas suas palavras.
Faz tempo que você não escreve. Que tal postar algo nesse novembro que promete?
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